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Que desperdício!...

 

E a água das Lombadas? Que desperdício!...

 

As redes sociais adquirem, nas plataformas digitais, dimensões impensáveis até há poucos anos, quer porque facilitam a aquisição de conhecimentos, quer porque proporcionam relacionamentos interessantes que aproximam pessoas num processo de globalização positivo.

Um dia destes, a fotografia anexa publicada no grupo do “Facebook”  Açores Unidos, recordou-me uma reportagem que efectuei nos anos 90 sobre as mais conhecidas águas minerais de São Miguel: Lombadas e Serra do Trigo. Esta última nascente, que outrora deu origem a um produto  premiado internacionalmente, a partir de 1895, e popularmente conhecido como “a soberana das águas de mesa” é a única água mineral açoriana, naturalmente gasosa, entre as 21 classificadas o ano passado em Portugal.

Tem a designação comercial de “Magnificat Açores”. O seu iniciador foi o furnense Manoel Machado Viveiros, camponês empreendedor. Já nos finais do século 19, ele exportava a apreciada Serra do Trigo, cuja produção atingiu 10 milhões de litros por ano, para a Europa, África e América.

Outros recursos do Vale das Furnas, a apregoada maior hidrópole do mundo, perderam-se, entretanto, como a “água da Helena”. No norte da Ilha de São Miguel, desapareceu também a água da Ladeira da Velha.

Ao contrário, tem crescido, em Portugal, o consumo de água engarrafada.

Em 2011 cifrava-se em 122 litros/habitante, facto que fez aumentar a produção nacional para 920 milhões de litros. Subiu também para 5% a exportação das águas minerais naturais e de nascente, o que revela a importância económica deste sector de actividade.

Hoje, tal como ontem, a exploração hidrológica mereceu o interesse de investidores continentais.

Em 1891, a firma Meirelles & C.ª, de Lisboa, iniciou o engarrafamento directo da água das Lombadas, a quinhentos metros de altitude, junto ao massiço vulcânico do Fogo.

Em 1906, aquela água carbo-gasosa natural, jorrava a uma quantidade de 18 mil litros por hora e conheceu uma enorme expansão para o continente e outros mercados estrangeiros que a consideravam a raínha das águas de meza. Mesmo assim, a sua captação nos anos 40 só atingiu os 50 mil litros.

Estava, pois, em expansão, quando foi instalado o reclamo luminoso no Rossio, em Lisboa. Da tradição vinha o conhecimento de que as Lombadas subiam à mesa da casa real portuguesa e do principado de Mónaco, devido às suas propriedades digestivas.

Desses tempos, restam apenas a memória dos mais idosos e alguns documentos que atestam o progresso registado no processo de enchimento, com a construção de novas instalações, por volta dos anos 20.

A revista Os Açores, no seu n.º 3, setembro de 1922, publica uma reportagem sobre visita ao local, com meia dúzia de fotos muito interessantes sobre a actividade da fábrica, de onde saíam, diariamente, cerca de 2.500 garrafas, transportadas por bestas e cavalos até ao depósito em Ponta Delgada, para seguirem depois para Lisboa, Brasil e África. E tem este comentário: “quanta gente bebe a Agua das Lombadas, quantos milhares de dispepticos a bemdizem não ligando à certeza da sua existencia a ideia, embora vaga da ilha onde ela brota perene e limpida, fonte de saude e vida.”

Apesar da comprovada qualidade deste produto, com excelentes referências no mercado nacional das águas de mesa, a sua captação e exploração têm encontrado muitas dificuldades, avanços e recuos e, presentemente, encontra-se desativada. Pior: “a rainha das águas de mesa” que há décadas era remédio para maleitas do foro digestivo e bebida estimulante em encontros de café, continua, incompreensivelmente, a jorrar para o mar, como aconteceu durante séculos.

Numa altura em que a água representa um bem tão apetecível que chega a gerar conflitos internacionais, damo-nos ao luxo de, impávidos e serenos, desbaratar milhões de metros cúbicos de água que a mãe-natureza produz no ventre desta ilha. Esta situação não poderá continuar por muito mais tempo, sob pena de estarmos a desperdiçar um bem natural, como o mar e a natureza, cujas potencialidades económicas são de enorme valor.   

Cabe às instituições governamentais, científicas e empresariais encontrar formas de rentabilizar este património que já provou ter condições para gerar riqueza. E que o façam sem delongas, pois o tempo urge!

Queremos ouvir a sua opinião, sugestões ou dúvidas:

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